Vivemos num mundo de estímulos e a nossa mente é constantemente bombardeada com informações e distracções. E nós completamos a sobrecarga com o acumular constante de pensamentos e preocupações. E assim se instala o caos mental que muitos de nós vivemos. A tralha nem sempre é palpável, nomeadamente esta. Mas pode-se exteriorizar pela desordem que se vive em muitas casas.
Neste artigo abordamos o conceito de tralha mental, os seus efeitos nocivos e algumas estratégias para ajudar a reduzir o seu impacto.
Mas afinal o que é tralha mental? Este termo refere-se a um acumular de pensamentos, preocupações, memórias, emoções e informações que temos guardados na nossa mente. Vamos esmiuçar este conceito generalista, com exemplos do quotidiano.
Pensamentos negativos, tais como “nunca acontece nada de bom na minha vida” ocupam o espaço de foco em aspectos positivos da nossa vida. Quando somos constantemente autocríticos, assumindo que nunca fazemos nada bem, que não temos jeito para nada ou quando rejeitamos o nosso corpo minamos a nossa auto-estima e confiança. O hábito de catastrofização, fazendo cenários antecipados de acontecimentos que irão possivelmente ocorrer, ou quando transformamos pequenas preocupações em cenários catastróficos. As frases “isto não vai resultar”, “isto vai correr mal” paralisam-nos pelo medo do desconhecido.
Remoer o passado é mais comum do que se pensa. São muitas as pessoas que vivem no passado e que tantas vezes comentam “se soubesse que ia ser assim, tinha feito diferente”. Mas o passado é isso mesmo – passado! E a sua utilidade resulta na aprendizagem para progredirmos. A preocupação excessiva com o futuro, gerando a ansiedade pelo desconhecido, pela expectativa de sermos bem-sucedidos, por querer ter controlo sobre tudo e questionarmos as nossas capacidades. As preocupações do dia-a-dia que nos enchem a cabeça tais como as inúmeras tarefas a realizar ocupam demasiado espaço na nossa cabeça e cansam-nos, pois, temos receio de esquecer alguma que nos seja importante, urgente em ser resolvida.
Agora que já clarificámos o que é tralha mental mais rapidamente conseguimos compreender a extensão dos efeitos nocivos que a acompanham.
Vamos comparar a nossa mente com um computador: armazenamos, processamos e recuperamos informações sistematicamente. Mas quando o sobrecarregamos e ocupamos demasiado a sua memória o seu funcionamento fica mais lento. No caso da nossa mente a nossa capacidade de foco e clareza, a nossa tomada de decisão e o nosso bem-estar emocional ficam comprometidos. Tal como o computador necessita de actualizações a nossa mente precisa de auto-cuidado. Só assim conseguimos continuar a funcionar de forma equilibrada e saudável. Uma mente sobrecarregada sofre elevados níveis de stress, irritabilidade, ansiedade, frustração, perde o foco, impede que relaxemos e, pode inclusive associar-se a sintomas físicos, como dores de cabeça, dores de estômago, tonturas, náuseas… No limite a nossa saúde mental e física pode ficar comprometida. Os nossos relacionamentos ficam condicionados. Na realidade acabamos por não conseguir desfrutar de uma vida leve, de viver o presente. Não é raro sofrermos mais na nossa mente do que na nossa vida, porque muitas das nossas preocupações não irão acontecer na vida real!
Mas destralhar e organizar a nossa mente é um desafio. Deitar pensamentos no lixo não é a mesma coisa que deitar um documento que já não faz falta no papelão. O nosso mindset precisa ser reformulado para abandonarmos preocupações desnecessárias, pensamentos negativos, ver problemas onde não existem. E esta mudança precisa ser feita por nós e para nós, mesmo que necessitemos de ajuda, o que é perfeitamente normal.
Então como podemos ajudar a nossa mente a ficar mais relaxada, com uma menor sobrecarga e sentirmo-nos com uma maior vitalidade? Existem algumas formas, umas mais simples que outras.
Quando tiver muitas tarefas constantemente a acumular na sua cabeça opte por as anotar numa lista. Procure estabelecer prioridades para as executar, num máximo de 3 tarefas diárias mediante o seu grau de dificuldade e tempo de execução. Esta acção vai libertar preocupações da sua mente porque sabe que tem uma lista que pode consultar e nada esquecer.
Não caia no erro do multitasking porque irá sobrecarregar e retirar o seu foco, pode esquecer de executar partes das tarefas e fica mentalmente mais cansado.
A nossa mente precisa descansar e nada melhor do que ter um bom padrão de sono. Uma mente cansada não raciocina devidamente e tudo fica mais difícil de solucionar.
Quando sentir a mente sobrecarregada opte por fazer uma caminhada, ir ao ginásio, sair com os amigos, meditar, ler, ir ver o mar ou até ocupar um pouco do seu tempo com o seu hobby preferido. Vai abstrair-se das preocupações e irá conseguir estimular os níveis de oxitocina, hormona associada ao nosso bem-estar.
Uma vez que nunca conseguiremos controlar tudo na nossa vida aprenda a lidar com os imprevistos. O ditado diz “Não podemos controlar o vento, mas podemos ajustar as velas”, ou seja, precisamos ser flexíveis e encontrar uma solução e não focar na adversidade.
Não deixe que o passado o atormente. Os ressentimentos “roubam-nos” anos de vida. Ou os resolvemos ou afastamo-nos deles para que não interfiram na nossa qualidade de vida.
“A nossa mente é um jardim, os nossos pensamentos são sementes, podemos cultivar flores...ou ervas daninhas”
Em suma, a tralha mental é uma realidade com a qual muitos de nós lidamos diariamente, mas não temos de a considerar como algo definitivo e impossível de contornar. Abordar esta situação de forma consciente e desenvolver um mindset de aceitação da necessidade de mudança dos nossos padrões exige esforço e dedicação. Embora possa ser desafiador e exigir tempo, os benefícios são inegáveis. Quando nos libertarmos da tralha mental, nasce o espaço para uma vida mais leve, equilibrada e significativa, onde podemos progredir.
